Os EUA estão a viver um boom de centros de dados alimentado pela explosão da procura por inteligência artificial (IA). Gigantes da tecnologia como Meta e OpenAI estão investindo bilhões na construção dessas instalações em expansão, com projeções sugerindo que essa tendência só irá acelerar. Mas à medida que o número de centros de dados dispara, também aumenta o seu impacto ambiental, levantando questões cruciais sobre localização e sustentabilidade.
Um novo estudo publicado na Nature Communications fornece um roteiro para o desenvolvimento responsável de data centers, analisando as possíveis consequências ambientais em diferentes estados dos EUA. Constata que, embora o desenvolvimento da IA prometa imensos benefícios sociais, o seu rápido crescimento poderá sobrecarregar significativamente os recursos hídricos e agravar as emissões de carbono se não for cuidadosamente gerido.
A crescente sede e calor da IA
O estudo destaca dois fatores críticos que influenciam a pegada ambiental de um data center: uso de energia e consumo de água. Os data centers necessitam de grandes quantidades de eletricidade para os seus servidores e sistemas de refrigeração – uma importante fonte de emissões de gases com efeito de estufa, especialmente quando alimentados por combustíveis fósseis.
Além disso, o próprio processo de arrefecimento consome enormes quantidades de água, colocando uma pressão adicional em regiões já vulneráveis que enfrentam secas ou escassez de água. A análise traça um quadro nítido: a expansão descontrolada dos centros de dados poderá levar à emissão anual de mais 44 milhões de toneladas de equivalente dióxido de carbono – ultrapassando a produção total de emissões de países como a Hungria, Portugal e Nova Zelândia em 2022.
Escolhendo locais sustentáveis: além do Vale do Silício e da Virgínia
Historicamente, os data centers agruparam-se em regiões como o norte da Califórnia e a Virgínia, impulsionados por fatores como a proximidade de centros tecnológicos (Vale do Silício), redes de fibra ótica existentes, reservas de mão de obra qualificada e incentivos estatais generosos. No entanto, estas zonas enfrentam frequentemente stress hídrico e podem depender fortemente de redes eléctricas ainda dominadas por combustíveis fósseis, exacerbando o fardo ambiental.
O novo estudo identifica um caminho mais sustentável, identificando estados como Texas, Montana, Nebraska e Dakota do Sul como potencialmente mais adequados para o desenvolvimento futuro de data centers. Essas regiões geralmente oferecem:
- Redução da escassez de água: Recursos hídricos abundantes são cruciais para o resfriamento eficiente dos data centers.
- Maior potencial de energia renovável: A maior dependência da energia eólica ou solar reduz significativamente a pegada de carbono da eletricidade utilizada por essas instalações.
A corrida para as energias renováveis e um futuro com mais nuances
Embora o estudo enfatize a importância da localização estratégica, também reconhece que os avanços tecnológicos podem desempenhar um papel fundamental na mitigação dos impactos dos data centers. Tecnologias de refrigeração melhoradas, hardware de computação mais eficiente em termos energéticos e até mesmo a geração de energia renovável no local poderiam contribuir para reduzir as emissões e a utilização de água.
No entanto, estas soluções não são garantidas. Os autores do estudo alertam que a vontade política é crucial para a transição dos combustíveis fósseis e a adoção de fontes de energia limpa, que são essenciais para o desenvolvimento verdadeiramente sustentável dos centros de dados. Apelam à transparência das empresas tecnológicas relativamente à sua pegada ambiental e destacam a necessidade de políticas que incentivem práticas responsáveis.
O futuro da IA depende de alcançar um equilíbrio delicado: maximizar o seu potencial e minimizar os seus custos ambientais. Ao considerar a localização, promover a integração das energias renováveis e incentivar a inovação tecnológica, os EUA podem construir uma infra-estrutura de centros de dados que apoie o progresso sem pôr em risco a saúde do planeta.





















































